‘Barões da igualzinha?’ Artistas mais tocados do Brasil têm músicas que começam todas iguais. É marca ou só repetição?
Você já deve ter ouvido esse som – e não foi pouco. Todos os dias, milhões de brasileiros dão o play nos Barões da Pisadinha e ouvem a mesma virada de bateria eletrônica, não importa a faixa. As músicas dos artistas mais tocados do Brasil começam sempre do mesmo jeito. Veja o vídeo acima.
De onde saiu essa virada? Como ela é montada? Por que os Barões não dão uma mudadinha? Em busca dessas respostas, o G1 falou com Felipe Barão, tecladista do duo baiano, e com outros produtores do estilo. As respostas ajudam a entender a pegada da pisadinha:
- Esse forró todo feito no teclado sempre busca arranjos muito simples. Felipe Barão e DJ Ivis, outro destaque do ritmo, repetem o mesmo lema: “menos é mais”.
- Além disso, o sucesso exige identidade, uma marca registrada. Cada artista de sucesso tem a sua “batida”, com viradas que são sua cara.
- Alguns tecladistas têm três ou quatro viradas e variam as aberturas com elas. Outros, como os Barões, são radicais: tudo começa do mesmo jeito.
- A vantagem é que o ouvinte identifica de cara os Barões. Mas aí fica difícil diferenciar. Que música dos Barões é essa mesmo? É uma dúvida comum…
- Eles baixam na internet pacotes com sons de bateria e montam no teclado a base e as viradas (trechos na bateria que marcam transições da música, como na introdução).
- O único instrumento é o teclado. É como uma banda inteira, inclusive a bateria, reproduzida nas teclas, geralmente de um Yamaha S670 ou do novo Yamaha SX600 (cerca de R$ 5,5 mil).
- Os pacotes rolam soltos na internet. Qualquer tecladista pode baixar o “pack dos Barões” e montar a batida com os mesmo timbres deles.
“Desde quando decidi fazer o ritmo de pisadinha dos Barões, pensei num som de fácil entendimento, uma coisa direta e simples, que ia soar melhor no ouvido das pessoas”, diz Felipe, tecladista e produtor dos Barões da Pisadinha, ao lado do irmão Rodrigo, vocalista.
“A virada não podia ser diferente do ritmo. Coisa simples, fácil, feita num teclado, caseiro, mas de coração e muito suíngue. Como diz o ditado: o pouco se torna o muito. E essa é a intenção da virada dos Barões da Pisadinha”, diz Felipe Barão.
O G1 já mostrou como a pisadinha inovou o som do forró e invadiu os “paredões” de som pelo país. Outra reportagem detalhou como os Barões conquistaram o Brasil por uma rota alternativa que saiu da Bahia para os estados do norte e só depois rumo ao sul.
O paraibano DJ Ivis, um dos principais produtores do gênero, explica: “É como se cada artista tivesse o seu ritmo. Tem o ritmo dos Barões, que você identifica até quando tem outro músico tocando”.
“Mas o Tarcísio do Acordeon também tem o ritmo dele. O Zé Vaqueiro tem o ritmo que eu fiz (Ivis produz as músicas do cantor). Cada um tem sua virada, seu ‘kit’. Mais do que nunca o sucesso é o simples e o menos é mais“, diz Ivis, repetindo sem querer a ideia de Felipe Barão.
O nível de repetição das introduções varia entre os astros da pisadinha, explica o tecladista cearense André Teclas. “O Vitor Fernandes, por exemplo, tem cada música um pouco diferente. O Zé Vaqueiro alterna algumas. O Biu do Piseiro segue mais a linha radical dos Barões de repetir tudo”, ele cita.
André é produtor do grupo Forró Boys. “Quando estava na estrada, a gente tinha nosso ritmo e quatro viradas que íamos trocando. Não é falta de criatividade. É que o importante é ser reconhecido”, ele explica.
‘”Hoje tem música demais. Abre o YouTube e tem milhares de bandas. Satura a cabeça da galera. Quando você lança um trabalho, quer que as pessoas reconheçam. Solta a virada dos Barões e todo mundo reconhece fácil. É estratégia”, ele diz.
Além disso, essas batidas simples e marcantes são meio caminho andado para a rede social da vez, grande berço dos hits de hoje: “Caiu no Tik Tok, já era“, diz o tecladista.
André aponta em tutoriais os outros elementos dos Barões. Eles têm três viradas: além dessa inicial, que é repetida várias vezes ao longo da música, ainda há uma do tipo “paradinha” no refrão e outra que costuma dar um fôlego às estrofes mais para o final.
‘Simplezinho e bonito’
O cearense Paulinho, tecladista do Pisadinha de Luxo, esclarece uma dúvida comum: não, não é só apertar um botão. Mesmo que sejam iguais, as batidas e viradas da pisadinha não vêm pré-prontas nos teclados Yamaha (“No teclado não vem nenhum ritmo brasileiro”, afirma).
A partir dos “packs” (pacotes com sons de bateria e outros instrumentos sintetizados) cada tecladista monta seu ritmo no teclado, explica Paulinho. O DJ Ivis contou ao G1 como um som que parece gota d’água achado em um pack com 5 mil sons fez a diferença no hit “Esquema preferido”, por exemplo.
Paulinho cita outra vantagem que lembra o fenômeno acessível do punk rock nos anos 70: “Se você lança uma música com um arranjo bem difícil, só você vai saber tocar. Se fizer bem simplezinho e bonito, todo mundo vai conseguir fazer, postar, e sua música vai espalhar”, ensina.
fonte: G1
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