Candidato à reeleição no fim do ano, presidente fala sobre pontos determinantes dos 28 meses de mandato até o momento em longa entrevista que estará na íntegra em podcast na manhã de sábado.
Vinte e oito meses, onze títulos oficiais no futebol, a maior tragédia da história do clube e uma pandemia sem precedentes.
Rodolfo Landim teve um primeiro mandato tão vencedor como turbulento no Flamengo e já avisou que quer mais. Prestes a entrar no último semestre do triênio, o presidente já se declarou candidato no pleito do fim de 2021 e recebeu o ge para passar a limpo uma gestão onde se acostumou a celebrar vitórias e receber cobranças – mesmo em meio a um raro ambiente de calmaria política no clube.
Em 1h11min56 de gravação, Landim deu entrevista que será publicada na íntegra no podcast GE Flamengo edição especial neste sábado e foi das tardes e noites de sucesso no futebol até a trágica manhã de 8 de fevereiro no Ninho do Urubu. Acompanhado do vice de comunicação e marketing, Gustavo Oliveira, e do CEO, Reinaldo Belotti, o presidente falou dos motivos que o levaram a se candidatar novamente, de patrocínios, pendências na relação de parceria com o torcedor e até dos conflitos internos nas tomadas de decisão do futebol.
Confira abaixo trechos importantes da longa entrevista da Landim na sala da presidência decorada com fotos dos títulos e a imagem de Zico, e não perca a íntegra no GE Flamengo especial de sábado:
Candidatura
“A razão pela qual a gente acabou aceitando fazer isso foi porque já desde o final do ano passado, e algo que começou a aumentar no início deste ano, foi que todos aqueles grupos, porque o Flamengo tem vários grupos, que na verdade ajudaram no apoio, eles começaram a nos procurar com o intuito de pedir para que a gente continuasse por mais três anos. Por entender que o trabalho estava sendo bem feito, por entender que não havia ninguém, pelo menos para aquelas pessoas que tinham uma maior participação na gestão, que estava disposto ou querendo pelo menos neste momento ser presidente. Essas pessoas todas eu acabei conversando com elas e elas também me pediram para continuar.
Braz com Landim na premiação do Carioca de 2020 — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo
“Então, acho que foi uma resposta que eu acabei dando positiva para o pessoal, atendendo ao próprio apelo das próprias pessoas que nos apoiaram aqui”
Eu costumo dizer que tem uma frase de um livro que eu li quando era garoto, que é do Saint-Exupéry, que é O Pequeno Príncipe. Ele fala uma frase interessante que diz que você se torna responsável pelas pessoas que cativa, né? E de certa forma eu acho que o pessoal vindo e me pedindo para que eu ficasse mais três anos, eu acabei concordando com isso aí”
Oposição no Flamengo
“Existe claramente um grupo de oposição, que foi o grupo que perdeu outra eleição. Um grupo específico, né, do que tinha, que o presidente pertencia a esse grupo e que o candidato que perdeu a eleição pertence a esse grupo. Ele claramente é um grupo de oposição, ele não esconde isso, eu acho, né? Às vezes tentam demonstrar assim “não, não, estamos unidos”.
“Porque realmente certos questionamentos são difíceis até de sustentar e tal. Mas é claramente um grupo de oposição. O que o que a gente percebe é que cada vez tem tido menos influência, vamos dizer assim, maléfica, que eu diria assim para gerar um ambiente ruim para que a gente possa tocar o clube normalmente”
Candidatos Ricardo Lomba, Rodolfo Landim, José Carlos Peruano e Marcelo Vargas nas eleiçções de 2018 — Foto: Reprodução/Twitter Flamengo
Esse apoio é importante dos conselheiros, e a gente tem sentido isso nas aprovações maciças que a gente tem tido em todas as pautas que a gente encaminha para o conselho de administração e especialmente para o conselho deliberativo. Porque ali é que está representado realmente o equivalente a assembleia de acionistas de uma empresa. Ali, o nosso conselho deliberativo é onde estão representados realmente todos os sócios do clube, que são os donos do clube. E a gente tem tido um apoio maciço em todas as propostas que a gente faz. Com aprovações muito acima do que daquilo que normalmente existia no passado, especialmente em anos eleitorais”
Questionamento ao artigo 146 do estatuto
“O Flamengo ele tem a sua Constituição, que é o seu estatuto. Esse é um problema que não cabe um conselho diretor. Esse é um problema que cabe ao conselho deliberativo ouvindo os demais poderes do clube. Eu acho que os sócios do clube vão ter agora a oportunidade de se posicionar até amanhã (dia 30) em relação a todos esses pontos que foram levantados. A gente fica feliz de ver qual foi a posição que o conselho fiscal teve em relação a isso, a forma com que a coisa está sendo conduzida pelo conselho deliberativo.
Rodolfo Landim em entrevista na sala presidencial da Gávea — Foto: Marcelo Cortes / CRF
Eles tiveram oportunidade também de colocar qual era o ponto de vista deles e eu acho que a principal demonstração do resultado de tudo isso vai ser dado pelos sócios do clube na votação que eles vão fazer no conselho deliberativo. Então, eu acho que é um processo democrático livre, no qual eu, como conselho diretor, representante máximo do conselho diretor, presidente do clube, estou me eximindo de falar. Até porque, existem outros poderes que eu respeito muito dentro do clube, que são os responsáveis por tomar essas decisões. A gente encaminhou aquilo que a gente entende, o conselho fiscal vai ter um parecer em relação a essa colocação. O conselho deliberativo também encaminhou a votação dentro do que ele entendia que era correto, e os sócios ouvindo tudo isso vão ter o direito de votar sim ou não se eles concordam com isso.
Vamos ver qual ver ser o resultado da votação. A votação vai dizer democraticamente o que os sócios do clube entendem. Se está certo, se está errado. Se eles entenderem que essa colocação, que foi essa carta aberta, tem razão, eles vão voltar contra. Simples. Vamos contar os votos e ver o que que vai dar, porque eu acho que isso é uma boa sinalização de como os sócios pensam. Eu obviamente penso de uma maneira. Porque eu enviei as minhas contas para serem aprovadas dentro de uma certa maneira. Eu tenho uma certa proposta, vamos ouvir o que a votação diz”
Divisão de poderes no futebol
“Vamos lá. O que é de centralização que a gente dizia. De fato existia um funil que carregava para basicamente uma figura, que era o diretor de futebol que a gente tinha ano passado. Até porque, durante bom tempo o Flamengo não teve nem vice-presidente de futebol. O presidente do clube acabou acumulando a vice-presidência de futebol. Acabava ficando na figura do diretor de futebol todas as decisões mais importantes, e são as decisões mais importantes que a gente tem dentro do Flamengo porque envolvem a maior quantidade de recursos. As pessoas sempre ficam ligadas em contratações e valores. Mas isso, às vezes, não é nem o mais importante.
Gustavo Oliveira, Bap, Marcos Braz e Rodolfo Landim, dirigentes do Flamengo — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
Porque ali você firma um contrato de muitos anos e com o valor que você tem que honrar durante aquele período inteiro. Então, é ali que se compromete, de fato, um orçamento não um anual, mas plurianual do clube. O processo de escolha de um jogador para fazer parte do plantel do Flamengo é certamente o mais crítico de todos. Porque é certamente o que vai envolver a maior quantidade de recursos comprometidos pelo clube. Então, o que a gente fez primeiro foi tentar estruturar um processo no qual não que fosse a prova de erro ou a prova de maus resultados, porque futebol não é ciência exata, não é matemática. A gente queria reduzir a chance de ter erro.
A gente procurou estruturar melhor o processo de tomada de decisão a partir de informações, fatos e dados, para que a gente pudesse escolher esses jogadores dentro de um planejamento de plantel onde a gente fosse contratar jogadores para determinada função, onde de fato precisasse.
Uma coisa que era muito questionada era se contratássemos um jogador para uma posição que a gente já tinha bom jogador. Então, primeiro planejar, entender onde você precisa ter jogadores para compor o teu plantel, ver se você tem condição com os jogadores da base de assumir esse desafio. Caso não tenha, ir buscar no mercado, quanto vai custar, estabelecer limites para isso tudo é muito importante”
Caso Rafinha é exemplo disso?
“Vamos lá, vamos pegar de exemplo e explicar. Primeiro, deixar bem claro que o Rafinha é um jogador que a gente a adoraria que ele tivesse permanecido dentro do Flamengo. Quando o Rafinha saiu do Flamengo, e a gente entendeu, ele foi 100% claro dentro daquilo que tinha sido negociado conosco. E eu acho que as pessoas têm que procurar ser. Acima de tudo ele foi procurar a felicidade dele. Ele foi ele foi super correto. Nós vamos ficar eternamente ternamente gratos por tudo o que ele contribuiu para o Flamengo. Mas nós tivemos que ir ao mercado buscar um jogador para o lugar dele. E contratamos o Maurício, que é um grande jogador com participação na seleção chilena, já tem mais de 100 jogos pela seleção chilena, um jogador de altíssima qualidade, para o lugar dele.
Condução do caso Rafinha exemplifica o formato de gestão do Flamengo — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
“Dentro do planejamento orçamentário do Flamengo, se você for ver os valores envolvidos para trazer o Maurício não são muito diferentes do Rafinha. A gente fez uma substituição. O primeiro ponto é: trazer o Rafinha de volta envolvia em duplicar quase um orçamento para uma mesma posição. Porque você já tinha visto ali e você já contratou isso”
O segundo ponto é que tem que olhar que você tem naquela posição um jogador nosso que estava emprestado para o Internacional durante um tempo. Está vencendo e que vai estar retornando para nós também. Então, nós vamos contratar mais um jogador e vamos ter um terceiro jogador de qualidade que tinha ido para o Inter no momento em que dentro do planejamento cabia. Tudo isso faz parte da visão que a gente não pode pensar só no momento, a gente tem que pensar no todo e no planejamento, no que vai acontecer”
Marketing na pandemia
“Gostaria de lembrar algumas coisas para mostrar a importância do trabalho do marketing. No primeiro dia da gestão, perdemos o patrocinador máster. Chegamos com receita zero. E o pior: a oferta no mercado enorme. Não fomos só nós que perdemos, praticamente todos perderam. E quem está no mercado escolhe onde vai botar, o que diminui o valor. Chegou o dia 8 fevereiro e tinha marcado um café com um grande colaborador com um potencial adiantado para um grande patrocinador máster, e tivemos o problema do Ninho. Acabamos fechando com o BS2 um bom patrocínio.
Flamengo estreia novo patrocinador no jogo com o Volta Redonda — Foto: Divulgação
Depois, em época de Covid, conseguimos trocar o máster pagando mais do que o dobro. É mais do que um patrocinador, é um parceiro comercial que eu acredito muito. Agora, fico feliz quando vejo o que conseguimos. Fico feliz que as reportagens saiam assim: o Flamengo está com um patrocinador máster nas costas. Isso é fruto de um trabalho excepcional que a área de marketing está fazendo e às vezes não é mensurado.
“Estamos tendo um grande crescimento nas redes sociais. As pessoas não procuram mais um outdoor na camisa, estão procurando o nome na camisa, mas também o engajamento e tudo que envolva a marca. Estamos mudando um pouco o conceito, porque o mercado está procurando isso”
Tragédia do Ninho
“Tivemos sempre a preocupação, desde o primeiro momento, de assistir as famílias da melhor maneira possível. Quando você tem um acidente desse, qualquer coisa que você fale é pouco perto do que foi a perda da vida de dez garotos. Mas dentro do que tínhamos possibilidade, colocamos assistente social, psicólogos, tudo para assessorar as famílias. Procuramos resolver os problemas o mais rápido possível. É óbvio que, se pudéssemos, iríamos indenizar todo mundo o mais rapidamente possível. Mas peço atenção das pessoas ao seguinte: qual outro acidente em grande escala no Brasil, após dois anos, você já tinha resolvido o problema de indenização como o Flamengo resolveu?
Landim no Ninho no dia do incêndio — Foto: André Durão
É claro que como uma pessoa diretamente envolvida, presidente do clube, sabendo do que foi, no coração você fica fragilizado, mas da mesma forma tivemos que estabelecer limites porque era um processo de indenização que tínhamos que fazer com recursos do clube. Fomos consultar a área jurídica para ver qual era o valor de indenização normalmente pago, que é pelo sofrimento das pessoas, pelo dano… Vida não tem preço, você não indeniza vida.
Num momento como esse, as pessoas tendem a usar, principalmente advogado e tal, e também informações com números estratosféricos, causa uma expectativa muito grande nas famílias. Mas temos que ter bom senso de não tomar a decisão de sair pagando valores que são fora da realidade. Explicamos isso no Conselho Deliberativo, explicamos valores de referência e dissemos que íamos pagar mais. Mas tudo tem um limite.
Acho que dentro do que foi possível ser feito, olho para trás e, sinceramente, acho que agimos correto com a famílias, não deixamos de assistir… Acho que faz parte do jogo que apareça um advogado falando que não, pressionando… Talvez no passado as pessoas que estavam sentadas aqui estivessem mais preocupadas com a imagem delas, mas temos que absorver o desgaste para tomar a decisão que precisa ser tomada e não a mais confortável”
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