Levantamento feito no Reino Unido sobre impacto da vacinação nos efeitos da Covid longa mostrou que 57% dos participantes apresentaram uma melhora geral dos sintomas após serem imunizados. Mas cientistas ainda tentam entender quais são os mecanismos e os efeitos concretos das vacinas em pacientes com Covid longa.
Um mês depois de contrair covid-19, a trabalhadora autônoma Mara Gogolla, 49, passou a sentir dores que começavam e acabavam em uma parte do corpo e surgiam em outra, vista embaçada, sudorese noturna, vertigem, falta de ar e uma fadiga que a impedia até de subir escadas.
“E após sete meses com muitas dores e diversos sintomas, porque a cada dia aparecia um novo, acordei sem dor alguma. Antes quando eu caminhava um quarteirão, eu parava, sem brincadeira, mais de cinco vezes para tomar fôlego. Agora eu não paro mais. Também não tenho mais falta de ar”, conta à BBC News Brasil.
Mas como tudo mudou de uma hora para outra? A explicação mais provável até agora, que ainda precisa ser comprovada, é o impacto da primeira dose da vacina AstraZeneca-Oxford que ela tomou uma semana antes de os sintomas associados à covid-19 longa desaparecerem.
Por um lado, diversos cientistas ainda tentam entender quais são os sintomas da covid longa, que grupos sociais são mais atingidos e os mecanismos por trás dessa condição. De outro, pesquisadores se debruçam sobre possíveis tratamentos ou mesmo a cura.
E é aí que a vacina entra na história.
VÍDEO: Covid prolongada – sintomas permanecem mesmo depois da cura
Um levantamento feito sobre o impacto da vacinação nos efeitos da covid longa mostrou que 57% dos participantes apresentaram uma melhora geral dos sintomas após serem imunizados. Esse estudo, que não foi revisado por outros cientistas, é o mais amplo até agora sobre o assunto. Ele foi liderado pelo grupo de apoio britânico LongCovidSOS e contou com a colaboração das universidades de Exeter e Kent, no Reino Unido.
O governo britânico estimou em março de 2021 que 1,1 milhão de pessoas enfrentaram pelo menos 1 dos mais de 50 efeitos persistentes da covid-19 no país, onde hoje 59% dos 67 milhões de habitantes receberam pelo menos uma dose da vacina.
Ainda não está claro se a melhora de vacinados que tinham covid longa ocorreu diretamente por causa da vacina, pela progressão natural da doença ou por fatores psicológicos, por exemplo. E para além de levantamentos coletivos e relatos individuais, cientistas tentam descobrir as verdadeiras explicações por trás disso.
É o caso da imunologista Akiko Iwasaki, da Universidade Medicina de Yale (Estados Unidos), que vem se dedicando a estudos sobre o impacto do sistema imunológico em relação à covid-19 e atualmente, na mais recente linha de pesquisa de seu grupo, investiga o efeito das vacinas em pacientes com a covid longa ou a síndrome pós-covid, que até pouco tempo era vista por autoridades, cientistas, pacientes e seus familiares como uma “doença psicossomática”, ou seja, problemas de saúde oriundos de questões psicológicas, emocionais.
Ela e outros cientistas estudam pelo menos três possíveis explicações. “Nossa (principal) hipótese é de que a covid longa é causada por uma infecção viral persistente e/ou doença autoimune”, diz Iwasaki à BBC News Brasil.
Ou seja, a primeira hipótese aponta que haveria um reservatório de coronavírus em algum lugar do corpo que continua afetando o paciente sem ser detectado por exames.
Na segunda, o combate ao coronavírus desencadeou um mecanismo autoimune no qual o sistema de defesa ataca o próprio corpo.
A terceira fala em fragmentos do coronavírus continuariam no corpo como “fantasmas virais” que estimulam o sistema imunológico e provocam inflamação constante.
Uma das hipóteses aponta que fragmentos de coronavírus podem agir como ‘fantasmas virais’ que afetam sistema imunológico sem gerar infecção — Foto: Getty Images via BBC
Para os cientistas, provavelmente não haverá uma explicação ou solução única para todos os atingidos por um problema de saúde tão complexo.
Entenda abaixo quem são os mais atingidos pela covid longa, como as vacinas podem funcionar como tratamento para algumas delas e o que tem sido feito para diagnosticar e reabilitar pacientes em países como Brasil.
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