No RJ, lei que prevê distribuição foi aprovada para estudantes e pode atender mais de 350 mil mulheres, mais ainda não tem data para sair do papel. Em Jardim Gramacho, ativista ouviu de mulheres que preferiam engravidar para ficar sem menstruar.
A “pobreza menstrual” virou tema nesta quinta-feira (7) após o presidente Jair Bolsonaro vetar a distribuição gratuita de absorventes femininos para estudantes de baixa renda e mulheres em situação de rua ou de vulnerabilidade extrema.
A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (7). A argumentação para o veto é de que o projeto não estabeleceu uma fonte de custeio.
O g1 ouviu relatos que quem lida diretamente na distribuição de absorventes para quem não tem condições de comprar no Rio de Janeiro.
“O absorvente custa muito caro. Para quem vive com auxílio de R$ 280, paga R$ 120 em um botijão de gás, como vai comprar absorvente? Nas ruas (pessoas em situação de rua), usam miolo de pão, pedaços de pano de chão, que têm poder de absorção. É um item de luxo apesar de ser absolutamente necessário”, diz a professora Yvonne Bezerra de Mello, à frente do instituto Uerê, projeto educativo na Maré.
Projeto do governo do RJ não tem prazo para sair do papel
No estado do Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro (PL) sancionou em setembro a lei 9.404/21, que autoriza o Poder Executivo a distribuir gratuitamente absorventes nas escolas estaduais. Ainda não, no entanto, prazo para início da distribuição.
A distribuição dos absorventes deve ser realizada na secretaria ou na coordenadoria das escolas e, preferencialmente, por uma mulher. Cada unidade será responsável por afixar cartazes informando sobre a disponibilidade dos absorventes.
Um estudo técnico preliminar foi providenciado junto à elaboração de um termo de referência para a realização de uma licitação para a compra dos absorventes.
Enquanto isso, ativistas e organizações tentam ajudar quem não tem condições de adquiri absorventes em comunidades, colégios e nas ruas.
Gravidez para evitar a menstruação
Constanza Del Paso, hoje com 17 anos, começou a falar sobre pobreza menstrual aos 14. Ela conta ter distribuído, gratuitamente, cerca de 200 mil absorventes em favelas e escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro.
Recentemente, a ativista conseguiu arrecadar mais de 3 mil absorventes reutilizáveis para doação.
Nas ações, ouve relatos impressionantes. Em Jardim Gramacho, município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, conhecido por ser um dos maiores aterros sanitários da América Latina, Constanza ouviu das mulheres que elas preferem absorventes descartáveis porque os itens reutilizáveis não teriam como ser higienizados corretamente devido à falta de água e produtos de limpeza, o que poderia causar sérios riscos à saúde.
Uma das mulheres fez um relato ainda mais impactante: disse que preferia ficar grávida para não ter que menstruar.
“Em uma doação que fizemos para as meninas do Jardim de Gramacho, uma menina disse que tinha tanta dificuldade para comprar absorventes que preferia engravidar a ficar menstruada e não ter absorvente para usar. Isso é de uma tristeza imensa. É falta de informação somada à pobreza extrema”, diz Constanza.
Mais de 350 mil pessoas no Rio precisam de absorventes
São muitos os que têm a vida impactada pela falta do item. Segundo a expectativa do governo, o projeto do RJ deve atender 51% dos cerca de 707 mil estudantes da rede.
Em números absolutos, seriam atendidas 362.650 pessoas, com idade entre 10 e 55 anos das turmas de ensino regular e da educação de jovens e adultos.
Em face da grande necessidade de políticas públicas, a professora critica o veto do governo federal.
“Ficar suja gera um constrangimento para a mulher, quem tem um fluxo intenso e precisa usar o mesmo absorvente o dia inteiro para economizar, sente um grande desconforto. É um problema para saúde feminina”, diz.
Faça um comentário