Guru de Trump e da família Bolsonaro falta à audiência de comissão da Câmara dos EUA e enfrenta acusações de desacato criminal.
Guru político de Donald Trump e admirado pela família Bolsonaro, o estrategista de extrema direita Steve Bannon deve ser acusado nesta terça-feira (19) de desacato criminal pelo comitê da Câmara dos Representantes que investiga o trágico ataque ao Capitólio dos Estados Unidos, no dia 6 de janeiro, por simpatizantes do ex-presidente americano.
Embora intimado a depor, Bannon desafiou a comissão e não compareceu à audiência marcada para quinta-feira (14). Em mais uma demonstração de lealdade ao ex-chefe, alegou estar protegido por privilégios executivos, apesar de não integrar o corpo de funcionários da Casa Branca. Por meio de seu advogado, Trump teria instruído quatro ex-assessores a não testemunhar ao Congresso.
A comissão da Câmara quer estabelecer os vínculos entre o ex-presidente e seu conselheiro nos fatos que antecederam o motim do fatídico dia 6, quando uma turba de extremistas incitada por Trump invadiu a sede do Congresso para impedir a legitimação de Joe Biden como presidente dos EUA.
O próprio Bannon admitiu recentemente em seu podcast “War room” ter advertido Trump, antes da posse, a “eliminar o governo Biden ainda no berço, por sua incompetência e ilegitimidade”. “O inferno vai implodir”, previu o estrategista a seus ouvintes na véspera do ataque.
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Foto de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio dos EUA, mostra policiais conversando com apoiadores do então presidente dos EUA, Donald Trump — Foto: Manuel Balce Ceneta/AP
Depois da votação do comitê, a acusação vai ao plenário da Câmara, de maioria democrata, e deve ser ratificada. Se for considerado culpado por desacato ao Congresso, Bannon pode ser obrigado a pagar multa e a enfrentar 12 meses de prisão. O processo é encaminhado ao Departamento de Justiça, mas leva anos para ser concluído.
Por esta razão, democratas acusam o estrategista de Trump de mais uma artimanha para atrasar a investigação. Ele conta com apelações judiciais, que poderiam postergar a decisão final para depois das eleições de meio de mandato, em novembro de 2022. E sabe que a acusação de desacato ao Congresso, na prática, terá pouco efeito.
Bannon é considerado o mentor da retórica incendiária do ex-presidente americano. Dirigida a radicais de direita, sua ideologia mescla populismo, autoritarismo, racismo e desinformação, entre outros prejuízos à democracia.
Arquiteto da vitória de Trump sobre Hillary Clinton, em 2016, ficou apenas sete meses no governo. Saiu aparentemente defenestrado por ter sido fonte para uma biografia nada abonadora a Trump. Continuou, contudo, a atuar nos bastidores para sustentar e amparar ideologicamente o governo e a campanha do presidente à reeleição.
Donald Trump e Steve Bannon em foto de janeiro de 2017 — Foto: Mandel Ngan/AFP
No ano passado, ele foi preso sob acusação de desviar dinheiro de uma campanha que arrecadou fundos para construir um muro para barrar imigrantes na fronteira do México. Após pagar fiança de US$ 5 milhões, saiu livre.
O perdão presidencial concedido a Bannon por Trump nos últimos dias de seu mandato deixou claro que a relação entre os dois não fora abalada.
Sua influência cruzou fronteiras. Bannon lidera o “The Movement”, que engloba grupos de extrema direita no mundo. No Brasil, tem ligações sólidas com o clã Bolsonaro, especialmente com o deputado federal Eduardo Bolsonaro, escolhido por ele para representar seu movimento na América Latina.
Recentemente, o ideólogo conservador pregou contra o voto eletrônico — que, nas suas palavras, seria o único responsável “por roubar a reeleição de Bolsonaro em 2022”. Nos EUA ou onde quer que esteja, Bannon está sempre de prontidão para disseminar tumulto e desinformação.
Steve Bannon e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante encontro na embaixada do Brasil em Washington, em 17 de março de 2019 — Foto: Alan Santos/Presidência da República do Brasil via AFP
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