Cássia Aguiar, de Fortaleza, começou a treinar a escrita de dissertações apenas nos últimos dois meses de 2021. Antes disso, seu foco era se preparar para a Olimpíada Internacional de Química.
Cássia Caroline Aguiar, de 18 anos, tirou nota mil na redação do Enem 2021. — Foto: Arquivo pessoal
“Cassinha, atende, você tirou mil na redação do Enem!”. Foi assim, com uma mensagem de voz de um amigo, que a cearense Cássia Caroline Aguiar, de 18 anos, acordou no início da noite de quarta-feira (9).
Ela já tinha desistido de visualizar seu boletim de desempenho do Exame Nacional do Ensino Médio. Apesar de o ministro Milton Ribeiro ter anunciado no Twitter que a divulgação das notas, prevista inicialmente para sexta-feira (11), seria antecipada para as 19h de quarta-feira, candidatos tiveram dificuldade de acessar os resultados nas três primeiras horas.
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“Fiquei impaciente e decidi dormir cedo. Mas aí meu amigo me procurou e disse que estava conseguindo ver as notas dele. Passei meu login, e ele abriu meu perfil no celular dele”, conta Cássia. “Quando viu minha nota mil, me mandou mensagem e ligou. Comemorei muito com a minha mãe e a minha avó.”
Boletim de desempenho de Cássia no Enem 2021 — Foto: Reprodução
Talvez você imagine que Cássia é aquela aluna “100% de humanas”, que escreveu centenas de redações ao longo do ano e que prefere linguagens aos números. Engano seu.
A jovem coleciona medalhas em olimpíadas de exatas: só citando os maiores destaques, ela ganhou ouro na Brasileira de Física (OBF, no 9º ano do ensino fundamental) e na Brasileira de Química (OBQ, no 3º ano do ensino médio). Em 2021, ainda foi bronze na Olimpíada Internacional de Química (se não fosse a pandemia, ela teria feito a prova presencialmente, no Japão).
Cássia ganhou bronze na Olimpíada Internacional de Química — Foto: Reprodução
Exatamente por esse desempenho excepcional nas competições, Cássia ganhou uma bolsa de estudos para fazer parte da turma de ensino médio do Colégio Master, em Fortaleza, no grupo focado para o vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA, um dos mais concorridos do país).
Faltando dois meses para o fim do ano letivo, ela mudou de ideia e pediu transferência para a classe que se concentraria no preparo para o Enem.
“Percebi que, no ITA, ficaria mais direcionada a assuntos de física e de cálculo, a coisas de escritório. Mas sempre gostei de química e de biologia. Queria trabalhar com pessoas. Por isso, decidi fazer medicina”, conta.
Só então começaram os treinos de redação. “A professora ensinava o esqueleto da dissertação. Eu fazia alguns textos e ficava os relendo depois, procurando meus erros. Mas sei que muita gente exercitou bem mais do que eu nessa parte.”
Cássia agora aguarda as inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para pleitear uma vaga na Universidade Federal do Ceará (UFC).
‘Qual era o tema da redação mesmo?’
“Quais foram os argumentos que você apresentou na sua redação, Cássia?”, questionou o g1. “Ai, na emoção, eu até esqueci: qual era o tema mesmo?”, respondeu, rindo.
Depois de alguns segundos, ela deu uma olhada na folha de rascunho do seu texto (veja foto abaixo).
Rascunho da redação do Enem de Cássia Aguiar — Foto: Arquivo pessoal
“Nossa, está cheio de asterisco; não dá para entender nada. Lembro que, quando vi qual era o assunto [“Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil“], não sabia direito o que escrever , aí deixei essa parte mais para o fim da prova”, afirma.
“Só que fiquei aperreada, com medo de não dar para terminar”, diz.
“O finalzinho do último parágrafo, por exemplo, foi escrito direto na folha final.”
Ainda assim, restava a esperança de tirar a nota máxima.
“No fundo, sempre fica aquele sonho de conseguir o ‘mil'”.
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