Reaproximação entre Biden e Maduro impõe risco político, sobretudo para o presidente americano em ano de eleições legislativas.
Até poucos dias, os presidentes Joe Biden e Nicolás Maduro ratificavam suas posições em lados antagônicos sobre a guerra na Ucrânia, mas o pragmatismo falou alto e pautou a retomada das negociações entre os EUA e a Venezuela – a maior aliada da Rússia na América Latina.
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Ainda é prematuro falar em reaproximação. Porém, uma reunião no fim de semana em Caracas entre Maduro e altos funcionários americanos delineou que, no atual momento, insistir na erosão das relações não interessa aos dois governos. As relações diplomáticas entre os dois países estão rompidas desde 2019, quando os EUA fecharam sua embaixada em Caracas, acusaram Maduro de fraude eleitoral e listaram o presidente e seus asseclas como procurados da Justiça.
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O ponto de inflexão para suavizar a retórica agressiva? O governo americano parece buscar outras soluções – ainda que em nações adversárias – para substituir o petróleo russo, que representa 8% de suas importações.
A Venezuela, por sua vez, enxerga tempos ainda mais difíceis com o embargo do Ocidente à Rússia e vê também no suposto degelo uma forma de suavizar as sanções americanas que pesam sobre as principais autoridades do país. O bloqueio acabou por minar a sua produção de petróleo.
Foi assim que na hora de negociar, Biden recorreu a Maduro e não a Juan Guaidó, reconhecido pelo governo americano como o presidente encarregado da Venezuela. Outrora incensado pelos EUA, o então líder da oposição a Maduro foi recebido na Casa Branca e ovacionado no Congresso, durante um discurso de Trump sobre o Estado da União. Agora, ele sequer foi consultado sobre a reunião, segundo revelou Carlos Vecchio, designado por Guaidó embaixador em Washington.
O primeiro reflexo das conversas no Palácio Miraflores, sede do governo venezuelano, foi a libertação de dois americanos – um deles, Gustavo Cárdenas, ex-executivo da Citgo, subsidiária da PDVSA nos EUA, preso há quatro anos, com outros cinco ex-diretores da empresa, acusado de corrupção.
Embora ainda incipiente, o degelo representa um alto grau de risco político, sobretudo para Biden, cujo governo enfrenta seu primeiro teste nas urnas, nas eleições legislativas de novembro. A comunidade de 200 mil venezuelanos que fugiram do regime de Maduro para a Flórida tem peso, a contar pelas reações negativas de congressistas de ambos os partidos a qualquer tipo de reaproximação: prevaleceu, entre eles, a unanimidade contrária a substituir um ditador (Putin) por outro (Maduro).
“Nicolás Maduro é um câncer para o nosso hemisfério. Não devemos dar nova vida a seu reinado de tortura. Os esforços de Biden para unificar o mundo contra um tirano assassino em Moscou não devem ser prejudicados, apoiando um ditador sob investigação por crimes contra a Humanidade em Caracas”, concordou o senador democrata Robert Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado.
Talvez por isso, a porta-voz de Biden, Jen Psaki, tenha se recusado a relacionar a reaproximação entre os dois países ao aumento da oferta de petróleo ou ao alívio nas sanções: “Isso é saltar vários estágios à frente.” Por enquanto, parece ser muito arriscado o dano colateral interno para o presidente americano, se caminhar na direção de Maduro – investigado pelo TPI por crimes contra a Humanidade. Ainda que seja para atenuar o impacto da redução do petróleo russo nos EUA.
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