Para políticos do Centrão, Silva e Luna não tinha o traquejo político nem o conhecimento para “traduzir” à população as decisões sobre os combustíveis, principal temor do governo quando se trata de perda de eleitor.
A escolha de Adriano Pires para o comando da Petrobras estava definida pelo governo Bolsonaro há cerca de dez dias. Foi uma escolha política, que ignorou qualquer sugestão de Paulo Guedes, ministro da Economia, e privilegiou o comando político do governo.
O nome de Adriano Pires surgiu após o governo decidir indicar Rodolfo Landim para o comando do conselho de administração da Petrobras.
Landim, que também preside o Flamengo, disse que aceitaria o conselho, mas que não estaria disposto a assumir a presidência da estatal, se isso fosse cogitado, pois não queria se desfazer de seus compromissos com o clube carioca. Foi, então, que Adriano Pires surgiu como substituto de Silva e Luna.
Faltava apenas comunicar ao general Silva e Luna que ele seria trocado, o que coube ao ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia; e o Planalto terminar de passar um pente fino no currículo de Pires para evitar problemas com a CVM.
Em momento algum, o governo cogitou manter Silva e Luna. Isso porque ele, para políticos do Centrão que comandam a campanha à reeleição de Bolsonaro, não tinha o traquejo político nem o conhecimento do tema que o Planalto precisa para, na versão de assessores políticos de Bolsonaro, “traduzir” à população as decisões sobre os combustíveis. E isso é prioridade para Bolsonaro no ano eleitoral.
É o preço do combustível o principal temor do governo, quando se trata de perda de eleitor.
Por isso a escolha de Pires: um nome que entende do assunto, já que ele é especialista no tema – diferentemente do general Silva e Luna – e que pode “traduzir” politicamente as medidas que forem tomadas pela estatal sobre combustíveis, com o objetivo de reduzir danos eleitorais.
O governo também tem a expectativa de que ele, por ter experiência na área, apresente alternativas e ideias para o preço dos combustíveis – agora, de dentro da estatal.
Pires já era ouvido como conselheiro por ministros do governo, entre eles, Rogerio Marinho – adversário político do ministro Paulo Guedes, mas com muita influência junto ao presidente Bolsonaro.
Assessores de Bolsonaro, quando convidaram Pires, deixaram claro que ele teria “carta branca” para comandar a estatal – mas essa carta branca parece mais uma autonomia condicionada, como todas no governo Bolsonaro. Ou seja, ele terá “carta branca” desde que estabeleça uma comunicação alinhada com o Planalto na hora de informar à população preços definidos pela estatal.
Essa é uma das queixas do governo junto a Silva e Luna, que teria “pego de surpresa” o governo com o último reajuste, o que o general nega.
O Planalto também espera que a nova gestão da presidência da Petrobras faça uma espécie de resgate de gestões do PT na estatal, uma forma de, nas palavras de um interlocutor de Bolsonaro, relembrar o que foi feito para recuperar a imagem da Petrobras após a corrupção investigada pela Operação Lava Jato.
Em suma, o Planalto espera uma gestão com comunicação política de Adriano Pires no comando da Petrobras para estancar e neutralizar efeitos eleitorais de decisões da estatal no preço do combustível.
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