SpaceX e Amazon podem ganhar nova concorrente de internet via satélite; entenda a disputa entre as empresas

Francesa Eutelsat e britânica OneWeb negociam fusão para criar líder global em conectividade. Objetivo é se fortalecer frente às companhias de Elon Musk e Jeff Bezos na corrida por constelações com milhares de pequenos satélites que oferecem banda larga para regiões pouco atendidas.

Kit da Starlink com antena, modem e cabos custa R$ 3.000 — Foto: Divulgação/SpaceX

Kit da Starlink com antena, modem e cabos custa R$ 3.000 — Foto: Divulgação/SpaceX

 

Uma proposta de fusão entre a francesa Eutelsat e a britânica OneWeb pode levar à criação de uma nova concorrente para a SpaceX, de Elon Musk, e a Amazon, de Jeff Bezos, no mercado de internet via satélite.

O plano de unir as duas empresas europeias foi revelado na segunda-feira (25). A Eutelsat disse que realiza uma negociação com o potencial de criar uma líder global em conectividade com a OneWeb, mas esclareceu que não há garantias de que chegarão a um acordo.

A fusão pode fortalecer as empresas na criação de uma ‘constelação’ de satélites em órbita terrestre baixa. Os dispositivos, que ficam mais próximos da Terra em relação aos grandes satélites em órbita geoestacionária, estão sendo usados para levar internet para áreas pouco atendidas.

 

Hoje, a corrida é liderada pela SpaceX, que mandou mais de 3.000 satélites para o espaço por meio da Starlink. A Amazon, que trabalha no Project Kuiper, planeja lançar seus primeiros dispositivos no quarto trimestre de 2022.

A OneWeb conta com 428 satélites e planeja lançar 648 ao todo, enquanto a Eutelsat tem 36 satélites em operação.

'Constelação' de satélites ocupará órbita terrestre baixa e ficará bem mais próxima da Terra que os satélites geoestacionários — Foto: Kayan Albertin/g1

‘Constelação’ de satélites ocupará órbita terrestre baixa e ficará bem mais próxima da Terra que os satélites geoestacionários — Foto: Kayan Albertin/g1

Além da negociação entre as duas empresas, a proposta de fusão poderá ser acompanhada de perto por alguns países. Isso porque, entre os principais acionistas da Eutelsat, estão o banco estatal francês Bpifrance e fundo soberano chinês China Investment Corp.

Já a OneWeb foi salva da falência pelo governo do Reino Unido e o banco privado indiano Bharti Global, que se juntaram para comprar 50% da empresa em 2020. Segundo uma fonte da Reuters, o governo britânico teria poder de veto sobre negócios da eventual companhia criada com a fusão.

“Do ponto de vista antitruste, é provável que este acordo seja fortemente escrutinado e provavelmente também precisará de consenso político do Reino Unido e da União Europeia em um momento em que o Reino Unido está escolhendo um novo primeiro-ministro”, disse o banco Credit Suisse em comunicado.

Sede da Eutelsat em Paris — Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters

Sede da Eutelsat em Paris — Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters

Satélites diferentes

A internet via satélite existe há anos, mas Musk, Bezos e outros investem em outro modelo do serviço. Os provedores convencionais usam satélites em órbita geoestacionária, isto é, que acompanham a rotação da Terra e permanecem sobre uma mesma região.

No caso do Starlink, da OneWeb e do futuro Project Kuiper, os satélites ficam na órbita terrestre baixa, mais perto da Terra. Eles estão próximos à Estação Espacial Internacional e ao telescópio Hubble.

 

Com uma distância menor, os novos satélites prometem diminuir a latência, que indica o tempo entre a saída de um pacote de dados da sua máquina e o início da resposta no servidor de destino. Nos dois casos, o foco está em regiões distantes de grandes centros.

Marcelo Zuffo, membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e professor do Departamento de Engenharia de Sistemas da Poli-USP, afirma que uma vantagem da internet via satélite está no fato de ela levar conexão onde não há outras opções disponíveis.

“Você pode oferecer infraestrutura onde não chega internet, como em um navio no meio do oceano, na Antártica ou na Amazônia”, afirma. “Há várias oportunidades de negócio para regiões remotas”.

É rápido?

A empresa de Elon Musk espera alcançar velocidade de 1 Gb/s (gigabit por segundo) no futuro. No primeiro trimestre de 2022, a velocidade média de download da provedora nos EUA foi de 90,55 Mb/s, segundo levantamento do SpeedTest.

No mesmo período, a ViaSat e a HughesNet tiveram velocidade média de download de 22,31 Mb/s e 22,19 Mb/s, enquanto provedores de banda larga fixa registraram 144,22 Mb/s, em média.

 

A Starlink diz em seu site que os usuários podem contar com “latência de até 20 ms (milissegundos) na maioria dos locais”, mas o relatório da SpeedTest indicou que a média ficou em 43 ms nos EUA no terceiro trimestre de 2021.

A latência da Starlink é menor do que a registrada nos EUA pelas empresas de internet via satélite tradicional HughesNet e Viasat, que ficaram em 724 ms e 628 ms, respectivamente. Por outro lado, a latência de provedores de banda larga fixa ficou em 14 ms.

Lançamento de satélites da Starlink no Kennedy Space Center, na Flórida (EUA), em 18 de janeiro de 2022 — Foto: Divulgação/SpaceX

Lançamento de satélites da Starlink no Kennedy Space Center, na Flórida (EUA), em 18 de janeiro de 2022 — Foto: Divulgação/SpaceX

É barato?

Para se tornar cliente do serviço da Starlink, é preciso primeiro comprar um kit com antena, roteador e cabos que custa R$ 3.000. Há ainda uma mensalidade de R$ 530, além de uma taxa única de cerca de R$ 1.500 e uma taxa de serviço mensal de R$ 150.

 

Roberto Onody, professor do Instituto de Física de São Carlos da USP, avalia que o custo poderá ser um entrave para a Starlink. “A desvantagem é o preço do equipamento e da assinatura, esse é um contra bastante importante”, afirma.

Ele também aponta que a empresa de Elon Musk deverá ter dificuldades para conseguir clientes em cidades muito populosas.

“Ninguém quer trocar a fibra óptica pela Starlink no momento. Pode ser que daqui a 5 ou 6 anos isso venha a acontecer, mas no momento não compensa”, avalia.

Os preços devem cair no futuro, na avaliação de Zuffo. “Esses custos tendem a diminuir, hoje é um pouco inacessível para o cidadão comum. Mas, se você está em uma fazenda e não tem acesso à internet, pode valer a pena”, afirma.

Como está o projeto da Amazon?

Segundo o presidente-executivo da AmazonAndy Jassy, que assumiu o antigo cargo de Bezos em julho de 2021, o Project Kuiper é a grande aposta da empresa. Como na Starlink, o objetivo é levar banda larga para comunidades com pouca ou nenhuma oferta de internet.

Os dois primeiros satélites da companhia, batizados de KuiperSat-1 e KuiperSat-2, serão lançados no quarto trimestre de 2022. “Eles nos permitem testar a tecnologia de comunicações e rede que será usada em nosso projeto final de satélite”, disse a companhia em novembro de 2021.

 

Apesar de Bezos ser dono da empresa de foguetes Blue Origin, o lançamento dos primeiros satélites será feito com o foguete RS1, criado pela ABL Space Systems. Segundo a Amazon, os equipamentos de internet serão retirados de órbita após a missão para não criarem lixo espacial.

Em 27 de dezembro de 2021, foguete Soyuz foi usado para lançar mais 36 satélites da OneWeb, que tem 394 equipamentos em operação no espaço — Foto: Roscosmos/Handout via Reuters

Em 27 de dezembro de 2021, foguete Soyuz foi usado para lançar mais 36 satélites da OneWeb, que tem 394 equipamentos em operação no espaço — Foto: Roscosmos/Handout via Reuters

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