PIB vem abaixo do que o esperado com piora do agro e sinais de desaceleração

Segundo economistas, efeitos tardios das altas de juros também tendem a diminuir a demanda doméstica à frente e previsão é de atividade mais fraca em 2023.

O crescimento da economia brasileira no terceiro trimestre veio pior do que o esperado. Dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) do país teve uma alta de 0,4% no terceiro trimestre, em uma desaceleração mais forte do que a prevista por economistas, de 0,7%, segundo pesquisa feita pela Reuters.

Segundo especialistas, apesar de parte do movimento refletir uma série de revisões feitas pelo IBGE nos dados de crescimento de 2020 e 2021 – o que acabou trazendo uma base de comparação mais forte nesses períodos –, essa desaceleração também é explicada por resultados mais fracos em alguns setores econômicos.

Decepção no agro

Um dos segmentos que mais pesou no resultado da atividade econômica brasileira no terceiro trimestre foi a agropecuária. O setor registrou uma retração de 0,9% nos três meses até setembro, interrompendo uma sequência de três altas consecutivas.

“A grande decepção do terceiro trimestre foi o agro. Nós prevíamos que as safrinhas de milho dariam um impulso mais alto, que as condições meteorológicas não seriam tão adversas e que os preços mais altos puxariam o agro para cima, mas [o setor] acabou tendo uma queda no período e veio bem pior do que o esperado”, afirmou o estrategista da RB Investimentos Gustavo Cruz. Segundo ele, alguns economistas previam um aumento de mais de 3% para o segmento.

Para Vitor Martello, economista-chefe da Parcitas Investimentos, a perda de força da agropecuária pode ser explicada pelo encarecimento de produtos importados.

“Os termos de troca do Brasil não estão tão favoráveis. A soja, por exemplo, está com um preço alto, mas o fertilizante também ficou mais caro. Isso significa que o fazendeiro está gastando mais com insumos, mas vê um preço mais constante da soja no ano, o que resulta em margens mais apertadas”, explica o economista.

Ele reitera, no entanto, que para o ano que vem as expectativas são mais positivas. “O clima vai ajudar bastante, mas também é preciso ter em mente que o movimento favorável que vinha do exterior já não acontece mais”, completa Martello, referindo-se aos sinais de desaceleração em economias mais desenvolvidas, o que pode acabar influenciando no volume de exportações brasileiras.

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Serviços com pé no freio

Outro ponto abordado pelos economistas é a indicação de que o setor de serviços também começa a desacelerar. O segmento registrou um crescimento de 1,1% no terceiro trimestre, valor 0,2 ponto percentual (p.p.) menor do que o observado nos três meses anteriores (1,3%) e 0,3 p.p. inferior do que o registrado entre julho e setembro de 2021 (1,4%).

Segundo os economistas, mesmo diante da expectativa de um quarto trimestre um pouco mais aquecido para o setor, o movimento tende a vir de uma ótica mais sazonal, refletindo o período de compras advindo da Copa do Mundo, da Black Friday e das festas de fim de ano.

“Agora já começa a passar o efeito de reabertura da pandemia, quando os consumidores estavam comprando mais bens”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

“Além disso, também é preciso lembrar que especialmente a população mais pobre continua muito impactada por conta da inflação, que ainda corrói a renda da população. Tanto que já vemos um aumento de inadimplência que cresce com força, principalmente entre linhas de cheque especial e cartão de crédito, que são as linhas mais arriscadas e mais fáceis de acessar”, acrescenta.

Os efeitos dos juros na demanda doméstica

Se por um lado a demanda doméstica continua a apresentar crescimento no terceiro trimestre, com o consumo das famílias tendo crescido 1,0%, e o do governo, 1,3%, no período, por outro, os efeitos tardios das últimas elevações de juros feitas pelo Banco Central não animam os economistas em suas projeções futuras.

Segundo Martello, da Parcitas, o resultado positivo da demanda doméstica ainda reflete a reabertura da economia, os cortes de impostos e os benefícios fiscais concedidos nos últimos anos, mas os efeitos do aumento das taxas e das incertezas fiscais atuais tendem a ganhar força ao longo de 2023.

“Agora temos mais risco, com a discussão da PEC [Proposta de Emenda à Constituição] de Transição podendo aumentar ainda mais o vetor altista [de juros] e atrapalhar um pouco a política monetária. Isso preocupa porque já começamos a ver sinais de que o PIB pode recuar já no quarto trimestre e já vemos estabilidade da atividade nas nossas projeções para o ano que vem”, diz o economista.

A visão de Martello também é compartilhada pela maior parte do mercado, que também prevê uma forte desaceleração econômica à frente. Os últimos dados do Relatório Focus do Banco Central, por exemplo, apontam para um crescimento de 0,7% do PIB em 2023. Para este ano, a previsão é de uma alta de 2,81% na atividade.

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