Cérebros são moldados conforme a passagem do tempo e, ao serem alvo de estímulos rápidos provocados por celulares e tablets, não são treinados para se concentrar por período maior.
É preciso atenção à exposição exagerada às telas por crianças e adolescentes — Foto: TV Globo / Reprodução
Nas mãos de adultos, o celular pode se tornar uma dependência. Mas, em crianças e adolescentes, o uso desenfreado também pode afetar o desenvolvimento do cérebro e a concentração.
Isso porque smartphones e outras telas são uma fonte inesgotável de estímulos rápidos. Em poucos segundos, comentários, curtidas e a atualização constante do feed de redes sociais provocam a liberação de dopamina no cérebro, neurotransmissor que dá sensação de prazer e satisfação.
⚠️ Só que a dopamina vicia e é capaz de gerar um looping altamente perigoso para a saúde. Quanto maior o contato com os estímulos rápidos, maior é a chance de repetir – e aumentar – esse tipo de comportamento.
O perigo da exposição exagerada de crianças e adolescentes a telas é que o cérebro pode acabar sendo “recrutado” por esses estímulos rápidos, se tornando uma forma de pensamento preponderante, como explica o psicólogo Cristiano Nabuco, PhD em psicologia clínica de dependências tecnológicas.
- 🧠 Isso tem a ver com a maturação cerebral: o cérebro é uma parte do corpo humano que vai tomando forma com a passagem do tempo.
- 🧑 Antes dos 25 anos, essa maturação não está completamente desenvolvida. Ou seja: o cérebro ainda está sendo “moldado”.
- 💣 A “bomba” de estímulos rápidos que sai das telas pode, nessa etapa da vida, afetar o desenvolvimento do cérebro e a capacidade de concentração, uma herança que será levada para a fase adulta – e pode ser irreversível.
“Isso faz com que essa população se torne biologicamente muito mais vulnerável a esse tipo de estimulação”, afirma Nabuco. “Quanto mais eu uso as telas, mais um determinado tipo de operação é recrutada no meu cérebro”, diz ainda.
Raciocínio prejudicado
Celular crianças Três Rios — Foto: Reprodução/TV Rio Sul
Segundo os especialistas, conforme o pensamento vai sendo solicitado para estímulos rápidos, mais ele vai se tornando prevalente e preponderante no funcionamento mental.
“Cérebros de crianças e adolescentes, que têm uma maturação maior, acabam não sendo treinados para se concentrar por um tempo maior”, explica a psquiatra Julia Khoury.
Segundo Cristiano Nabuco, isso vai ao ponto de prejudicar o raciocínio. “Quando você dá para esses jovens que passam muito tempo em frente às telas um material que envolve um raciocínio mais denso e mais profundo, eles não conseguem fazer”, diz.
O psicólogo, que coordena uma unidade pioneira no país, localizada em São Paulo (SP), para atendimento de pacientes dependentes da tecnologia, afirma que as novas gerações vivem o que chama de “autismo digital“.
“Há relatos de casos de jovens que chegam a ficar conectados 40, 50 horas ininterruptas, sem sair do lugar, exatamente em função disso”, diz.
O que fazer?
Adolescentes lideram aumento de uso de celular no Brasil, diz Pnad — Foto: Pedro Gonçalves/G1MG
Para Cristiano Nabuco, crianças e adolescentes não devem ser estimulados ao uso frequente de celulares e telas. Por isso, pais e responsáveis devem ficar atentos ao dar um aparelho na mãos dos filhos.
Confira algumas dicas do especialista:
- Criar zonas livres de tecnologia ou desafios de detox digital: estabelecer ambientes ou períodos onde o celular não pode ser usado, como em uma viagem ou no almoço e jantar;
- A vida offline também é boa: estimular os filhos a fazer atividades ao ar livre ou praticar esportes pode ser uma tática para afastá-los das telas por um período do dia;
- Curtir o ócio: ensiná-los que é importante ter momentos à toa, sem os apitos das notificações. A pausa – real e digital – descansa a mente, estimula a criatividade e o desenvolvimento do cérebro;
- Dar o exemplo: crianças que veem os pais usando o celular o tempo todo estão mais propensas a repetir esse comportamento.
“A gente precisa de tempo ocioso. Olhar para a janela durante uma viagem e não para a tela de um tablet”, diz o psicólogo Cristiano Nabuco.
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