Ator merece todos os prêmios pelo trabalho, assim como a coadjuvante Hong Chau, mas o diretor Darren Aronofsky realiza um de seus filmes menos impactantes.
Ao fim de “A baleia”, novo filme do diretor Darren Aronofsky (“Cisne Negro”), não há dúvidas de que Brendan Fraser merece o favoritismo à categoria de melhor ator no Oscar 2023.
A obra que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (23) ainda tem outras duas indicações (atriz coadjuvante para Hong Chau e maquiagem e cabelo), justíssimas, mas não consegue ir além.
Infelizmente, a adaptação da peça de mesmo nome de Samuel D. Hunter, que também assina o roteiro, fica presa em um melodrama com mensagens óbvias e sem peso.
Já o cineasta, que mesmo quando tropeçava em suas fraquezas conseguia pelo menos usar de seu incrível talento para tensão e claustrofobia, como em “Mãe!” (2017), não consegue repetir o mesmo efeito.
O resultado é um filme pouco impactante e previsível, um dos mais esquecíveis de uma carreira repleta de obras marcantes.
Assista ao trailer de ‘A baleia’
Os humanos
Em “A baleia”, Fraser interpreta um professor de inglês recluso que, forçado a enfrentar a própria mortalidade por causa da obesidade que o mantém preso em seu apartamento, decide se reaproximar de sua filha.
Sua interpretação com certeza merece todo o reconhecimento nesta temporada de premiações. É difícil imaginar outro ator capaz de entregar um protagonista tão cheio de ternura que permite uma conexão quase instantânea com o público, mesmo com a roupa e a maquiagem que o deixa com a aparência de mais de 300 quilos e os – muitos – defeitos de caráter.
A seu lado, Chau (“Watchmen”) consegue superar o arquétipo de enfermeira durona e ranzinza com uma relação genuína e dolorida com o amigo/paciente, que luta para convencê-lo a ir ao médico ao mesmo tempo em que facilita seu estilo de vida pouco saudável.
Hong Chau em ‘A baleia’ — Foto: Divulgação
Personagens repletos de contradições, mesmo que encaixados em padrões previsíveis, são especialidade de Aronofsky – e parte de seu apelo com o público.
Mas, em “A baleia”, ele parece distraído pelas tramas sobre religiosidade e fé. Tais discussões são comuns em sua obra, mas nunca foram tão superficiais ou óbvias.
Até no filme de 2017, uma alegoria quase literal – por mais contraditório que pareça – da Bíblia, soava menos maçante.
Pior do que isso. Dessa vez, são totalmente desnecessárias à história.
Ty Simpkins e Sadie Sink em ‘A baleia’ — Foto: Divulgação
Quem te viu
Outro problema é a escuridão da fotografia. Apesar de uma tendência clara (ou contrário, de fato) em todo o cinema de americano, que produz filmes cada vez mais escuros, “A baleia” ainda se destaca em relação aos demais.
A escolha pode aumentar a sensação de claustrofobia buscada pelo cineasta, com o protagonista preso dentro de seu apartamento, de seu corpo e de seus próprios traumas e incertezas, mas dificulta muito uma apreciação mais geral do público.
A iluminação parece melhorar com o avanço da história e conforme o personagem se liberta de tais amarras, mas tem uma evolução tão imperceptível que é difícil afirmar com certeza se foi intencional.
“A baleia” poderia ser tão grande quanto suas atuações. Infelizmente, como muitas vezes pode acontecer em obras mais autorais, fica encalhado nos maneirismos do cineasta.
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