Operação ‘Ptolomeu III’ mira cúpula do governo estadual; g1 tenta contato com alvos. Ação envolve PF, PGR, Receita e CGU; mandados são cumpridos em AC, AM, GO, PI, PR, RO e no DF.
Governador do Acre, Gladson Cameli, em imagem de janeiro — Foto: Diego Gurgel/Secom
Policiais federais começaram a cumprir nesta quinta-feira (9) 89 mandados de busca e apreensão em seis estados e no Distrito Federal em uma operação contra corrupção e lavagem de dinheiro na cúpula do governo do Acre.
A ação é uma nova fase da operação Ptolomeu, iniciada em 2021 e que investiga, entre outros, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP) (veja detalhes abaixo). Os mandados foram autorizados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A operação, intitulada “Ptolomeu III”, foi deflagrada a partir de investigações da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República, da Receita Federal e da Controladoria-Geral da União. Os nomes dos alvos não foram divulgados.
A TV Globo apurou que Cameli não é alvo direto das buscas desta quinta, mas é alvo da operação e foi submetido a outras sanções definidas pelo STJ:
- não poderá fazer contato com outros alvos da investigação;
- não poderá deixar o país;
- terá de entregar o passaporte à Justiça em até 24 horas.
O pai de Gladson, Eladio Cameli, e um irmão do governador, Gledson Cameli, também são investigados na operação.
O STJ determinou o bloqueio de R$ 120 milhões em bens dos investigados, incluindo valores em contas bancárias, aeronaves, casas e apartamentos de luxo. Segundo a PF, o cumprimento dos mandados envolve mais de 300 policiais federais nesta quinta.
Os mandados são cumpridos no Acre, no Amazonas, em Goiás, no Piauí, no Paraná, em Rondônia e no Distrito Federal. No Acre, equipes da PF fizeram buscas em gabinetes da Casa Civil e da Secretaria de Fazenda do estado.
O governo do Acre afirmou em nota que a operação desta quinta é uma “continuidade dos procedimentos policiais anteriores” e que o “governo do Estado, sempre atuando com transparência e retidão, mais uma vez se coloca à disposição das autoridades”.
Também em nota, os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira disseram ver com “surpresa” a terceira fase do inquérito iniciado há dois anos.
“Trata-se de uma investigação baseada em uma pescaria probatória e uma devassa financeira ilegal, que atacou a família do governador como forma de driblar o foro adequado”, diz a equipe que atua na defesa de Cameli.
“Desde então, o governador já prestou os devidos esclarecimentos, colocou-se à disposição das autoridades e assim permanece. O governador confia na Justiça e irá cumprir todas as medidas. E respeitosamente irá recorrer das cautelares, o que inclui a descabida ordem para não falar com o próprio pai e irmãos.”
Servidor da CGU e policiais federais fazem busca em apartamento como parte da operação Ptolomeu III — Foto: Polícia Federal/Reprodução
Ressarcimento aos cofres públicos
Nesta nova fase, segundo o material divulgado, o objetivo é bloquear bens para, no futuro, ressarcir os cofres públicos.
Além do bloqueio dos itens de luxo, a decisão do STJ prevê:
- 31 afastamentos de cargo ou função pública;
- 57 proibições de contato com investigados e acesso a órgãos públicos;
- 57 entregas de passaporte;
- 70 quebras de sigilo bancário e fiscal;
- 15 empresas com atividades econômicas suspensas.
A PF e a PGR não divulgaram quem são os alvos de cada uma dessas medidas. A operação tramita em sigilo no STJ.
PF faz buscas na Secretaria de Fazenda do AC em operação que investiga Gladson Cameli
Suposto esquema milionário
De acordo com material divulgado pela CGU, a operação tenta desarticular uma “organização criminosa especializada em fraudar contratações públicas”. Há suspeita de que recursos da saúde, da educação e do BNDES para obras de infraestrutura e serviços de manutenção tenham sido desviados.
A CGU e a PF identificaram “superfaturamento e inexecução contratual em pelo menos quatro contratos com empresas da área de construção civil”.
Essas empresas receberam, desde 2019, mais de R$ 268,6 milhões em recursos públicos. As evidências apontam uma série de condutas irregulares, incluindo:
- uso de sócios ocultos para disfarçar a conexão das empresas com servidores públicos envolvidos nas contratações;
- movimentações de altos valores em espécie (dinheiro vivo);
- operação de “smurfing” – divisão das quantias em uma série de transações menores em contas correntes para não chamar a atenção dos órgãos de controle.
Operação anterior
Em dezembro de 2021, Cameli já tinha sido alvo da primeira fase da operação. O político se elegeu governador do Acre em 2018 e foi reeleito para um segundo mandato no ano passado.
Naquele mês, a PF já tinha apreendido mais de R$ 3 milhões em veículos, relógios, joias, celulares e dinheiro vivo (euro, dólar e real). O apartamento de Cameli também foi alvo de buscas.
Também em 2021, Gladson Cameli afirmou que tinha a consciência “tranquila” e que a polícia estava cumprindo seu papel de apurar denúncias.
“Quem não deve, não teme. Não devo, não temo e quero que fique até o final, se tiver coisa errada vai para a rua [o servidor] e tem que prestar contas à sociedade, porque é dinheiro público”, disse à época.
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