Os pais devem ser mais ativos e precisam assumir funções cotidianas na vida dos filhos. Especialista dá dicas de como isso deve ser feito e enumera os benefícios de uma divisão de responsabilidades mais igualitária.
Mães sofrem com sobrecarga de tarefas. — Foto: Arte: g1
A mãe sempre resolve tudo na criação dos filhos, e isso é considerado o “básico”. O pai faz o mínimo, e isso é considerado o máximo. Por trás dessa ideia equivocada está uma sociedade que está acostumada a sobrecarregar as mulheres com duplas ou triplas jornadas e pouco avançou na divisão de responsabilidades. Mas como “desenhar” para os maridos o que é a “carga mental” que afeta mães e tem ainda o efeito colateral de colocar em risco a educação dos filhos?
(Esta reportagem é parte de uma série que o g1 publica nesta semana sobre como a falta de equilíbrio na divisão de tarefas impacta na educação dos filhos e como educar filhos antimachistas.)
Carga mental é o conceito atualmente utilizado para mostrar o acúmulo de responsabilidades que recaem exclusivamente sobre os ombros das mulheres.
Um exemplo: o pai até trocou a fralda do filho, mas quem se preocupou com toda a estrutura, da compra dos itens a levar a fralda suja para o lixo foi a mulher, passando pela necessidade de pedir que o paizão assumisse a tarefa em vez de ficar no celular.
“É simples: ele não precisa esperar a mulher pedir para fazer. Se o pai está com a criança e ela fez cocô, não precisa informar isso à mãe e esperar o aval dela para limpar, ou, pior, transferir para a mãe a responsabilidade de trocar o bebê”, diz Mariana Vieira, terapeuta especializada em gênero e com atendimento especializado para mulheres mães.
A especialista detalha que “cada coisinha dessas” é uma carga, uma tarefa.
“Os homens não podem esperar que a mulher faça tudo isso ou esperar que ela peça para que ele faça isso. O filho reclamou de dor de dente? Ligue para o dentista, não espere a mãe pedir. Ele está com uma reação alérgica? Fale com a pediatra ou a dermatologista. Isso é ser ativo, é ser responsável”, explica Mariana Vieira.
Vamos “desenhar” outros 3 exemplos?
1- Levar o filho ao médico ou dentista
Para levar a criança em uma consulta, primeiro é preciso ver qual especialista é responsável, marcar a consulta, realizar os exames necessários, separar os resultados e, finalmente, levar ao consultório. Quando o pai simplesmente leva o filho, sem se preocupar com todos os demais passos, está deixando a carga mental novamente nos ombros da esposa.
Para a administradora de empresas Luisa Lopes, de 35 anos, e o ex-marido, Marcelo, pais de Lucas, de 5 anos, a divisão de responsabilidades é comum. Separados, os dois veem nisso um eixo para o bem-estar familiar.
Marcelo e Luisa com o filho, Lucas — Foto: Arquivo pessoal.
“A consulta pediátrica é rotineira e sempre revezamos para marcar. Mas, em outros casos, como dentista, dermatologista e oftalmologista, quem percebe que há algo errado é quem marca, e depois avisa o outro”, Luisa explica.
Foi o que aconteceu há algumas semanas, quando Lucas estava na casa do pai. “O Marcelo me ligou e disse que tinha marcado dermatologista para o Lucas, porque ele estava com coceira, mas não era nada grave. Além de marcar, ele avisou que levaria [o Lucas] na consulta, e caso eu quisesse, poderia ir junto”, lembra.
2 – Levar a criança na escola
Pais podem ajudar na nas tarefas. — Foto: Arte: g1
Da mesma forma, levar o filho para a escola não é só colocar a criança no carro ou no transporte escolar. Antes disso, é preciso:
- Acordar a criança.
- Dar banho.
- Preparar o café da manhã.
- Verificar se a tarefa para casa foi feita.
- Certificar-se de que há uniforme escolar limpo e seco.
- Arrumar a mochila.
“E estes são só os passos mais imediatos, porque antes disso é preciso colocar o uniforme escolar para lavar e verificar se o filho precisa de ajuda para responder a tarefa de casa. Quem faz essas coisas? É preciso refletir”, afirma a terapeuta Mariana Vieira.
3 – Participar da rotina e de atividades extracurriculares
Pais também podem assumir responsabilidades relacionadas ao filho. — Foto: Arte: g1
Ser um pai com participação ativa na criação dos filhos inclui também:
- Saber qual a programação e horários dos filhos.
- Verificar de perto a agenda da escola para ver se tem alguma atividade prevista que envolva, por exemplo, providenciar um material diferente, como cartolina e cola, ou se naquele dia é para levar um brinquedo ou fantasia.
- Conversar sempre com o filho para saber como está se sentindo, se tem algo que o aflige ou uma situação que o incomoda. Isso pode ser importante para descobrir, por exemplo, que ele não gosta de uma atividade e prefere outra.
- Estar presente e não querer compensar a ausência com presentes.
Fazer, mas sem esperar crédito
É importante também assumir as tarefas relacionadas ao filho como parte da rotina, sem esperar reconhecimento ou crédito por isso.
“Maternar e paternar não é fácil e não gera créditos. Não é uma disputa de quem faz mais, ganha, e muito menos um duelo de um contra o outro. São funções complementares cujo objetivo é formar, educar e preparar a criança para a vida”, explica Mariana Vieira.
A terapeuta acredita que todos vão ser beneficiados com uma divisão mais igualitária. “A mãe não vai ficar sobrecarregada, o pai vai ter mais momentos de qualidade com o filho e a criança vai ter uma base sólida”, explica.
Luisa é testemunha e diz que isso é visível na forma como o filho se relaciona com os pais. “Se estamos todos em uma festinha e o Lucas cai e se machuca, ele não vem direto para mim, mas para quem está mais perto, porque ele confia que o pai também vai cuidar dele”, avalia.
Ela diz ainda sentir-se aliviada por saber que divide uma tarefa importante com alguém que mostra tanto empenho quanto ela. “Não é fácil ser mãe. Mas, tendo um pai presente e ativo, não é tão difícil”, afirma.
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