Polícia Civil investiga agressões, invasão de campo e eventuais crimes contra menina de 3 anos. Criança vai passar por avaliação física e psicológica. Caso ocorreu após jogo entre Internacional e Caxias em Porto Alegre.
A esposa do torcedor do Internacional que invadiu o campo do Estádio Beira-Rio com a filha no colo e agrediu um jogador do Caxias e um cinegrafista disse à polícia que ficou “apavorada” ao ver o episódio na televisão, durante a transmissão do jogo. Detalhes das duas investigações das quais o torcedor é alvo foram apresentados pela Polícia Civil nesta terça-feira (28) em Porto Alegre.
“Ela relatou que soube dos fatos no momento em que eles aconteceram, porque ela viu, ela estava assistindo ao jogo. Imediatamente ela ligou para o pai porque ela disse, nas palavras dela, que ela ficou ‘apavorada’ e, então, o pai não atendeu”, diz a delegada Elisa Souza.
A mãe da criança foi ouvida pela polícia na tarde de segunda-feira (27) na condição de testemunha. Ela não estava no estádio no dia do episódio.
A advogada do torcedor, Taiane Paixão, afirmou na segunda, que ele invadiu o campo “para proteger a filha” porque tinha “medo do que estava acontecendo na arquibancada”. Segundo a polícia, a mesma versão foi apresentada pelo investigado em depoimento.
“Ele relatou que não percebeu as consequências do ato dele de expor a vida e a saúde dessa menina a risco e relatou exatamente isso. Que ele ingressou no campo como uma forma de proteção e que desferiu chutes e socos a esmo contra essa pessoa que ele não sabia que era jogador do time rival”, afirma a delegada.
A Polícia Civil apura dois crimes em relação à criança: expor a vida ou a saúde de outro a perigo direto e iminente, conforme previsto pelo artigo 132 do Código Penal, e expor uma criança a vexame ou constrangimento, previsto no artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A menina irá passar por exames físicos e psicológicos. A polícia busca saber se ela sofreu algum trauma decorrente do caso.
Torcedor com criança no colo agride jogador do Caxias no Beira-Rio em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV
O chefe de polícia do RS, delegado Fernando Sodré, diz que o torcedor não demonstrou arrependimento. Os investigadores citaram que a ação do torcedor implicou no risco de algum dos agredidos reagir por instinto e atingir a menina.
“Nenhum tipo de arrependimento. Ele estava lá, como ele disse, se defendendo e defendendo a filha. Mas, na verdade, não é nada disso. Foi uma irresponsabilidade terrível e injustificável. Por muito pouco, a menina não sofreu algo mais grave”, relata.
Os dois inquéritos, conforme a Polícia Civil, devem ser encerrados esta semana e, encaminhados ao Poder Judiciário e ao Ministério Público.
O torcedor tem 33 anos, é morador de Canoas, na Região Metropolitana, é casado e pai de uma única filha, a menina carregada por ele no colo. O homem é sócio do Internacional desde março deste ano e não faz parte de torcida organizada desde 2019. Com ensino médio completo, ele é autônomo e não tinha antecedentes policiais.
Mãe (de branco) de criança carregada por torcedor que invadiu campo e agrediu jogador — Foto: Reprodução/RBS TV
Agressões
A Polícia Civil também investiga as agressões a um jogador do Caxias e a um cinegrafista da RBS TV. Outro crime apurado, previsto pelo Estatuto do Torcedor, é a invasão de campo.
Apenas o profissional de imprensa fez boletim de ocorrência. De acordo com o delegado Vinicius Naham, o atleta disse estar concentrado na sequência do campeonato e que não iria se manifestar neste momento. Ele tem até seis meses para representar criminalmente contra o torcedor.
Em depoimento, ele disse ter ingressado no campo após ser pressionado na mureta por outros torcedores. O torcedor disse que o portão de acesso ao gramado foi aberto por seguranças.
Três seguranças do Internacional e um familiar do torcedor, que também estava no estádio, ainda devem ser ouvidos pela Polícia Civil.
Torcedor com criança no colo agride cinegrafista da RBS TV no Beira-Rio em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV
Entenda o caso
O caso aconteceu no domingo (26), após o jogo entre Internacional e Caxias, no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. Em meio à confusão entre jogadores das duas equipes, um torcedor invadiu o campo com a filha de três anos no colo e agrediu o jogador Dudu Mandai, do Caxias, e também um cinegrafista da RBS TV.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) pediu medida de proteção para a criança carregada nos braços pelo torcedor que invadiu o campo. De acordo com o promotor da Infância e Juventude de Canoas, na Região Metropolitana, João Paulo Fontoura de Medeiros, a menina de três anos foi exposta pelo pai a “extremo risco de ser agredida e lesionada”.
O promotor pede que “seja aplicada medida de proteção e – em se revelando necessário – o acolhimento institucional da criança ou a sua entrega a membro da família natural ou extensa em condições de cuidá-la, a fim de que tenha seus direitos resguardados”.
No documento, Medeiros ainda pede que seja realizada uma avaliação técnica por parte da equipe judiciária e que seja feita uma audiência de advertência com os pais, avó materna, Conselho Tutelar e com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Também foi pedido que o Conselho Tutelar e o CRAS sejam acionados, para que verifiquem a situação da menina, dos pais e do restante da família.
“Fato mais grave apenas não veio a ocorrer por conta de alguns jogadores do time do Caxias terem-na protegido enquanto estava a implementar a ação intempestiva (e impensada) de seu próprio genitor”, escreve o promotor no pedido.
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