Bolsonaro participou de telefonema sobre ofício para resgatar joias apreendidas, diz à PF ex-funcionário da Presidência

Marcelo da Silva Vieira trabalhava no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica e diz ter se recusado a assinar ofício para liberar conjunto de luxo de R$ 16 milhões retido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos.

GIF – joias de luxo que a família Bolsonaro ganhou do governo da Arábia Saudita — Foto: Arte/g1

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de um telefonema sobre um ofício feito pelo seu braço direito, Mauro Cid, para tentar resgatar as joias de R$ 16,5 milhões apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos, disse um ex-funcionário da Presidência da República à Polícia Federal.

No depoimento, segundo o blog apurou, o ex-chefe de gabinete de documentação histórica da Presidência, Marcelo da Silva Vieira, contou que, em dezembro de 2022, Cid pediu para ele assinar um ofício que seria enviado à Receita para solicitar incorporação dos bens aprendidos pela presidência.

As tratativas todas ocorreram por WhatsApp, e não por vias oficiais.

 

Mauro Cid enviou ofício para Vieira em 27 de dezembro, às vésperas de Bolsonaro deixar o governo e partir para os Estados Unidos, e em meio à operação casada entre o gabinete de Bolsonaro e a chefia da Receita Federal para recuperar as joias.

Vieira se negou a fazê-lo.

Depois da negativa, os dois falaram ao telefone sobre o assunto – Vieira disse à PF não se lembrar quem fez a ligação.

Durante o contato, Vieira contou à PF que “Mauro Cid colocou a ligação no modo viva-voz e pediu ao declarante para que explicasse ao Presidente da República essa situação e por que não poderia assinar.”

Vieira afirma, então, que deu explicações técnicas sobre a impossibilidade e que Bolsonaro disse “ok, obrigado.”

Vieira era chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH). Sua função era revisar o que poderia ser aceito como presente para o acervo privado presidencial ou não. Ele estava no órgão desde 2017, quando Michel Temer (MDB) era presidente – e foi exonerado do cargo em janeiro de 2023, assim como outros funcionários do governo, quando Lula (PT) assumiu a presidência.

blog procurou o advogado de Bolsonaro, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

 

‘Ao presidente da República’

Vieira relatou à PF que, em outubro de 2021, recebeu um contato do Ministério das Minas e Energia informando que o ex-titular Bento Albuquerque havia recebido um presente de autoridade estrangeira para “ser entregue ao presidente da República”.

Albuquerque liderou a comitiva do governo brasileiro que, naquele ano, foi à Arábia Saudita e voltou com presentes de autoridades locais. Parte deles, o conjunto de joias de R$ 16 milhões, foi descoberto pelos funcionários da alfândega do Aeroporto de Guarulhos. Mas um outro pacote, avaliado em US$ 500 mil e contendo entre outras coisas um relógio da marca de luxo Chopard, entraram sem serem percebidos.

Sem detalhar quais eram os itens, Vieira disse voltou a ser procurado pelo Ministério das Minas e Energia sobre o assunto mais de um ano depois, em novembro de 2022 – um mês antes do fim do mandato de Bolsonaro. O objetivo desse contato, segundo o ex-funcionário, era organizar a entrega de itens ao presidente.

A entrega foi feita no Palácio do Alvorada, segundo o ex-funcionário, pois Bolsonaro já não estava indo mais ao Palácio do Planalto.

 

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